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Foto do escritorThiago Lobão

Os Metaversos e as Metanfetaminas que nos cercam

Zuckerberg anunciou um reposicionamento importante para o Facebook Company, que passa a se chamar Meta, em alusão ao termo Metaverso, espécie de universo paralelo tido como a atual fronteira do desenvolvimento social na web. Os produtos atuais (Facebook, Instagram, Whatsapp, Messenger) persistem com suas próprias marcas, ao passo que o modelo de receita do grupo, totalmente focado na venda de mídia, também persiste inalterado.


Muitos comentaram que a transição para Meta apenas copia a anterior criação da Alphabet pelo Google, mirando a valorização das ações da companhia através de um movimento que evidencia o valor intrínseco do seu roadmap de P&D. Esse argumento pode até fazer sentido, mas é inevitável não olhar para uma diferença clara entre os dois casos: enquanto o Metaverso é um objetivo-fim para o Facebook, a Alphabet é um formato organizacional que opera um grande laboratório com possíveis aplicações de inteligência artificial (Google + Other Bets). Enquanto um modelo foca em valorizar um negócio baseado na conclusão de um roadmap, o outro modelo foca na valorização do durante de suas tentativas. Ambas as valorizações soam como promessas, mas não se pode negar que o movimento do Metaverso parece ser ainda mais abstrato para o Facebook, do que eram as Other Bets para o Google à época de criação da Alphabet.


Então por que aproveitar o momento de agora para anunciar uma transição de posicionamento tão relevante, antes mesmo de escalar a oferta de tecnologias nesse sentido?


Os mais críticos podem salientar que o momento do anúncio se trata, na prática, de uma forma habilidosa de esquivar o Facebook de uma série de questionamentos sobre a real sustentabilidade de um business extremamente lucrativo nos tempos atuais, mas que sofre da total dependência de dados e informações de seus usuários (com e sem consentimento) para conseguir se manter. A Apple atacou a jugular dos principais players em redes sociais recentemente, empoderando seus usuários para que possam restringir o compartilhamento de suas informações para o disparo de anúncios de terceiros. Foi uma ameaça dura às perspectivas de crescimento do modelo de receita dos líderes de mercado de ferramentas sociais, causando quedas de valor de ações em diversos players, com destaque ao tombo de 20% no valor de Snapchat no dia de seu anúncio de resultados para o 3º trimestre de 2021.


É curioso, no entanto, que a própria Apple também não enfrente restrições para fazer uso dos mesmos dados que se propõe proteger, por mais que a maçã não busque vender mídia online através deles. Como muitos sabem, os governos globais já têm discutido ferrenhamente sobre como regular o tema, com embates polêmicos e muitas vezes bizarros sobre o oligopólio das FAAMG (agora MAGMA?) – ainda não muito conclusivos, por mais que as penalizações financeiras às Big Techs, especialmente na União Europeia, já sejam bastante salgadas.


Se a concentração de informações privadas por empresas de tecnologia já é motivo de alarde global, imagine o domínio de universos paralelos para convívio de pessoas para além do mundo real? Haja ansiolítico para os congressistas americanos, visto que estamos diante de uma rota tecnológica sem volta – uma nova era para a Internet, com o potencial de quebrar até mesmo o antigo paradigma da soberania das nações.


Agora, será realmente que o Facebook será o líder inconteste nesse movimento, ao passo de se autodenominar Meta?


Vamos concentrar esforços em esmiuçar melhor esse tal “Metaverso” descrito por Zuckerberg, onde, segundo ele, finalmente as conexões entre pessoas serão mais importantes do que a tecnologia em si (ótimo discurso para o melhor vendedor de mídia que o mundo já conheceu).


Muita gente busca simplificar o conceito de Metaverso como o desenvolvimento de Universos Virtuais, locais fictícios onde as pessoas podem interagir entre si por meio de avatares. Essa interpretação mais típica do Metaverso alinha-se a um conjunto amplo de ambientes virtuais já disponíveis no mercado, especialmente no setor de games. Jogos como o Farmville, um dos responsáveis pelo crescimento exponencial da Zynga, já traziam elementos de interação virtual, inclusive dentro do próprio Facebook. O Minecraft, hoje da Microsoft, nada mais é do que uma espécie de Metaverso dos blocos. A Activision Blizzard, criadora do World of Warcraft, é responsável por vários dos Metaversos dos dias atuais – aliás, várias companhias líderes em games prosperam atualmente pela infinita capacidade de monetização de artigos digitais em seus Metaversos – quem conhece a Roblox e seus Robux que o diga: a empresa basicamente exponencializou as possibilidades de interação e monetização entre pessoas em ambientes gamificados.


Agora, se analisarmos literalmente o sentido da palavra metaverso, começamos a perceber por que o termo entrou em voga mais recentemente, especialmente quando a Realidade Virtual (VR) começou a dar mais espaço à Realidade Aumentada (AR) e, como consequência, a uma mescla mais aplicada entre funcionalidades digitais e físicas para uma experiência virtual mais imersiva (Realidade Mista – MR). Um metaverso nada mais é do que um “universo que transcende”, um universo metafísico, independentemente de sua essência 100% digital ou não. E é aqui que o Facebook parece apostar suas fichas. O lançamento de um par de óculos com Realidade Aumentada embarcada, em parceria com a Ray-Ban, já dá uma deixa interessante: talvez os metaversos funcionais possam ser bem mais simples do que se imagina, muito menos virtuais e mais “aumentados”.


Mas para que diabos vai servir um “Metaverso Aumentado” no dia a dia? Para continuarmos jogando como heróis e monstrinhos? Como isso pode realmente aumentar a eficiência das pessoas e dos negócios? Vamos ficar fazendo calls de Microsoft Teams e Zoom usando avatares coloridos? É para isso que serve toda essa parafernália virtual? Quais novos paradigmas os metaversos podem realmente quebrar?


Fica fácil perceber que o assunto irá se alongar. Na tentativa de munir você leitor com mais informações, vamos entrar em detalhes das possíveis aplicações dos metaversos em nosso próximo artigo. Mostraremos quais ações de mercado serão as melhores oportunidades para se investir nessa tendência.


F=ma

 




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