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Foto do escritorThiago Lobão

Separando o joio do trigo em IA

As Techs continuam sua trajetória de recuperação de preços ao longo de 2023, por mais que encontre ventos contrários – a persistente instabilidade macroeconômica, por mais que amenizada, ainda se apresenta como principal driver para compra e venda de papéis em toda bolsa – movimento mais do que razoável diante da crise inflacionária pós pandêmica que enfrentamos, em tempos cada vez mais frágeis geopoliticamente.


O mercado parece insistir na tentativa de encontrar bons argumentos que justifiquem uma revalorização significativa das Techs antes de um arrefecimento mais contundente do cenário global que passamos. Em alguns casos, os fundamentos realmente amadureceram, como no exemplo de companhias com roadmaps e lançamentos consistentes baseados em inteligência artifical. Em outros casos, como tipicamente ocorre com novidades tecnológicas que chegam à massa, a euforia diante de uma nova buzzword passou a incentivar valorizações que, provavelmente, serão colocadas em cheque conforme os resultados apresentados por suas empresas.


Exponho aqui uma classificação lúdica de alguns comportamentos de forte valorização que temos observado nas ações tech recentemente. Sabemos que esteriótipos são sempre perigosos, mas úteis para tentar se separar o joio do trigo num momento em que qualquer notícia sobre inteligência artificial é ovacionada como via de salvação em papéis que foram fortemente agredidos pela desvalorização de 2022. Vale lembrar que o termo “inteligência artifical” foi cunhado em 1956 e que, antes do ChatGPT, apenas alguns poucos CTOs ousavam dizer que realmente priorizavam a inteligência artificial em seus desenvolvimentos (até porque IA podia soar com algo um tanto quanto perigoso – uma provocação possível apenas gênios incontestes como Bill Gates e Elon Musk). Hoje, em questão de poucos meses, não ter IA em seu plano de negócio passou a ser motivo de vergonha e preocupação.


Tech-based AIs: empresas com investimentos massivos em IA, em iniciativas de fronteira para aplicações e processamento em linguagem natural. Dois principais destaques deste grupo são evidentemente Microsoft - investidor da OpenAI, criador do ChatGPT; e Nvidia - líder em chips para processamento gráfico, base essencial para que IA funcione em escala, seguidos de perto por Alphabet e Adobe, que tiveram que antecipar o lançamento de suas iniciativas em IA, mesmo em estágio beta, para não “perder o bonde” de posicionamento de mercado.


Tech-dressed AIs: empresas que iniciaram recentemente movimentos de desenvolvimento proprietário em IA e/ou que estudam formas de integração com players como OpenAI, mas que se adiantaram em inserir comentários sobre o tema nos anúncios de seus resultados e/ou ações em mídia especializada. Por exemplo, players como AMD que está se posicionando como uma alternativa a Nvidia e procura uma fatia de mercado relevante no setor, anunciando parcerias importantes de fornecimento de chips, como para a AWS da Amazon. Também tem empresas para o consumidor final que integrarão AI ao seu negócio por meio de melhorias de UX (User Experience), como a Netflix, que está recrutando líderes para novos departamentos de IA com salários estratosféricos, na tentativa de sugerir que estão definitivamente priroizando AI em seus esforços de P&D.


Branded-based AIs: players que já ofertam soluções em AI com boa penetração de mercado, mas em soluções distantes do grande público e que, em sua grande maioria, ainda detém desafios relevantes de escalabilidade, seja em aplicações B2B ou B2C. Neste grupo, destacam-se IBM - mãe da plataforma Watson; e C3.ai - grande player de perfil consultivo, para desenvolvimento customizados em soluções em IA para grandes corporações.


Crisis Quick Learners: empresas que, independentemente do boom da AI, ganham destaque pelo rápido redirecionamento de prioridades em seus negócios durante a crise, com ações contundentes de cortes de custos e despesas e incrementos expressivos de lucratividade. Exemplos aqui são META - que parece ter deixado suas ambições de metaverso para um segundo momento, mesmo ainda arriscando fichas em iniciativas questionáveis, como no caso do Threads; AMZN - que parece ter aprendido e sossegado em relação a investimentos de alto risco de avaliação como no caso de Rivian, retomando o caminho da lucratividade em sua atividade core – e-commerce; e UBER – que finalmente começou a apresentar trimestres superavitários após uma trajetória tida por muitos como incapaz de ser geraradora de caixa.


Short Squeeze Highlanders: empresas com quedas graves de preços ao longo de 2022 e que começam a apresentar saltos bruscos de valorização em movimentos de alta, em muitos casos relacionados a um volume desproporcional de posições vendidas de um papel. Empresas como Roku, Upstart e Shopify, dentre outras, em diferentes níveis de intensidade, viram seus papéis decolarem ao longo do ano, mantendo o perfil de altíssima volatilidade.


Fork & Knife Sellers: companhias que ofertam bases tecnológicas indispensáveis para a manutenção de atividades de cadeias produtivas e/ou de outras companhias e que, no momento de crise, mostram grande resiliência e pequena variação em suas projeções de crescimento e lucratividade. Nesta seara, destacam-se players com bases tecnológicas distintas, mas intrinsecamente conectadas com seus clientes, desde empresas como TSMC – líder global na fabricação de chips de baixa nanometria, até referências em soluções SaaS como SalesForce e ServiceNow – indispensáveis pós implementação para bom funcionamento de atividades corporativas.


Feito esse panorama generalizado das empresas de tecnologia, é importante realizar um disclaimer: o mercado, e possivelmente ninguém, sabe os reais vencedores dessa corrida por IA. A primeiro momento, o franco favorito é a Nvidia, que já apresentou uma lista de pedidos de seus clientes por seus chips para a implementação dessa tecnologia. Outro favorito é a Microsoft, por motivos já citados anteriormente e pelo movimento contundente de integração de suas soluções, como no caso do Office, a features de IA desenvolvidos de forma conjunta a startups/scale-ups investidas. Quando olhamos para o passado, porém, percebemos que nem sempre quem sai na frente em novas proposições tecnológicas consagra-se como vencedor de uma vertical de mercado, haja vista os mercados de personal computer, tablets, smartwaches e social networking (afinal, alguém se lembra das comunidades do Orkut e do MSN?). O mercado tem tentado antecipar os vencedores e perdedores dessa corrida - em uma semana decreta-se o fim de empresas de consultoria como Accenture para que, na outra, perceba-se que seão necessárias consultorias para implementação de novas tecnologias nas empresas. Estamos no meio de um frenesi de IA e ainda precisaremos de tempo para ver essa tecnologia impactar de forma relevante nas receitas, margens e na capacidade de geração de caixa das techs.


Em resumo, acreditamos realmente que IA tenha potencial para revolucionar o mundo em que vivemos, porém ainda é necessário calma e cautela – a retomada dos preços dos ativos não se deve dar apenas por isso, mas sim por uma soma de fatores em que a melhora do cenário macroeconômico ainda persista com o maior peso nessa equação. Poderemos ainda ver sim correções expressivas em alguns papéis, conforme anúncio dos resultados trimestrais. Para nossos investidores mais típicos, com visão de longo prazo e lastreada em fundamentos, o momento continua oportuno para aumentar, com parcimônia, a exposição em ativos que mantém preços historicamente corrigidos.


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