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Semicondutores: uma verdadeira guerra dos nanômetros

A cadeia de semicondutores movimenta cerca de USD 515 bilhões anuais, responsável por boa parte dos 54% de ativos Nasdaq-100 que detêm base tecnológica. Trata-se de um campo ainda inexplorado por brasileiros no mercado de ações, naturalmente em razão da alta especificidade técnica dos ativos.


Buscando simplificar um pouco e desmistificar algumas máximas: não estamos falando apenas de “chips”, mas sim de uma cadeia ampla, que envolve Circuitos Integrados e Sensores de diversos tipos (Óticos, Micro-ondas, Discretos), para aplicação em dispositivos de uso pessoal e industrial. Semicondutores são a base de todo o funcionamento digital do mundo, por mais que não estejam restritos apenas a isso. Liderar a indústria de semicondutores é estratégico, pois eles são pontos de conexão e armazenamentos de informações (dados) – o contexto EUA/China aqui ganha ares especiais, especialmente quando falamos da indústria de fabricação de chips, além de suas aplicações.


Em geral, os players podem ser divididos entre Fabless e Foundries: players que desenvolvem “chips” com aplicações específicas e players que fabricam de fato tais unidades em larga escala. Os maiores players de mercado são grandes integradores de ambas as atividades, com destaque global a Intel (EUA) e Samsung (Coreia do Sul). Grandes players também se destacam na cadeia de desenvolvimento de sistemas para conexão móvel de dados (telefonia), nos quais Broadcom e Qualcom (ambas americanas) são bons exemplos.


Entender Intel talvez seja o melhor caminho para entender os demais players da cadeia. A Intel é muito forte em Circuitos Integrados em duas verticais: Microprocessadores (processar dados) e Memória (armazenar dados). Quando falamos de microprocessadores, estamos basicamente falando dos famosos CPUs (o processador do computador), para os quais a Intel desenvolveu, ainda em 1978, uma arquitetura de processamento praticamente adotada como padrão no mundo, o x86. Isso trouxe uma vantagem competitiva enorme e catapultou um crescimento muito forte na companhia (hoje com faturamento na faixa dos USD 70 bilhões/ano).


Diferentes players no mercado, no entanto, com o crescimento da demanda dos computadores, buscavam ter redundância de fornecedores em seus parques de máquinas, o que acabou fortalecendo competidores para desenvolvimento de chips, com especial destaque à AMD, sempre tida como uma “segunda linha” dos chips Intel, especialmente para aplicações pessoais.


Esse protagonismo da Intel tem prevalecido durante décadas, orientado por um racional de P&D que coloca metas contínuas para aumento da capacidade de processamento de microprocessadores (a famosa Lei de Moore). A mobilidade exigida para os novos dispositivos também impõe a miniaturização gradativa dos componentes desenvolvidos e, enfim, chegamos àquela máxima de que cada vez mais precisamos de “chips menores e mais potentes”.


Chips menores e mais potentes exigem estruturas de fabricação ultrassofisticadas que, por sua vez, impõem especialização – nascem, portanto, players focados apenas em fabricação de chips e, como consequência, players focados apenas na produção de maquinário especializado para a fabricação de chips.



Atualmente, duas demandas tecnológicas são fundamentais nessa rede de players: (i) a primeira delas decorre da necessidade de aumento de processamento para níveis que possibilitem aos Data Centers processarem dados no contexto da Inteligência Artificial (um volume praticamente infinito de operações concomitantemente); (ii) a segunda diz respeito à redução contínua da nanometria de chips, alcançando níveis além do padrão 10nm, expandindo-se o nível de aplicação e estabilidade.

Desculpem o alongar do texto, mas os conceitos acima eram necessários para esclarecer nossas principais posições e potenciais novas coberturas no Newton. Vamos lá.


Rodamos o TFMP para os líderes de mercado nas diferentes verticais e para empresas tidas como expoentes por veículos especializados. Enquanto Intel e AMD resultam em posições pequenas de compra (abaixo da nossa alocação mínima), NVIDIA se destaca por uma posição de compra significativa no fundo. De fato, se analisado o resultado do semestre, trata-se de um movimento bastante acertado (tivemos +40% de rentabilidade no papel no período). O ponto-chave é como NVIDIA lidera a transformação tecnológica do setor em sua demanda por mais processamento: seus chips gráficos (GPUs), antes desenvolvidos apenas como “placa de vídeo” para o setor de games, são demanda-base da revitalização e estruturação de novos Data Centers. O processamento multidimensional exigido por imagens é essencial para acelerar a análise de dados em sistemas complexos. Enquanto Intel e AMD buscam desenvolver expertises para embutir GPUs competitivas em seus portfólios, a NVIDIA acelera o lançamento de soluções que ameaçam a reposição plena dos CPUs por GPUs cada vez mais viáveis economicamente.


Ao final do ano passado, NVIDIA tomou uma posição estratégica que aumentou o alarde em toda a cadeia de tecnologia: a empresa anunciou a aquisição da ARM, companhia inglesa que tem revolucionado à arquitetura de chips com protocolo que complementa (e potencial substitui) o x86 da Intel. Aliás, a Intel acabou tomando um outro soco muito forte ao longo de 2019-2020: a AMD, numa jogada audaciosa, resolveu lançar precocemente uma família de chips com base em 7nm, uma geração acima do roadmap de 10nm da Intel, muito demandada pela maioria dos fabricantes. A Intel se viu sem capacidade de manter o mesmo patamar de market share e com uma ameaça clara de uma de suas principais travas de valor.


Atualmente, AMD e NVIDIA travam uma disputa clara para morder mercado de players como Intel e Qualcomm (quando falamos de protocolos de transmissão à distância). Vamos parar por aqui no tecniquês, mas importante esclarecer que esta disputa tem gerado um movimento de M&A extremamente aquecido, que amplia o escopo de aquisições para mercados de nicho que, na prática, não são tão nichados assim. Melhor exemplo é a aquisição da Xilinx pela AMD, que também passa pela validação nos devidos órgãos regulatórios.


Mas por que não investir em AMD também, visto que a empresa é pioneira na miniaturização dos chips para 7nm? A inovação aqui não está na AMD, mas sim em players como TSMC (companhia taiwanesa, líder global em manufatura de chips) e, mais especificamente, em ASML (companhia holandesa, maior fornecedor de sistemas de litografia para semicondutores). Tratam-se de empresas gigantescas, com operações globais e que, muito provavelmente, poderão compor o Portfólio Newton em curto/médio prazo.


Em resumo, a metodologia TFMP, quando aplicada a semicondutores, tem naturalmente destacado players que estão no cerne das carências tecnológicas do setor. NVIDIA tende a ser uma posição longeva no portfólio, por mais que possa sofrer ajustes de preço em razão do grande ramp-up do semestre, em especial nas especulações relacionadas à concretização do movimento junto a ARM. Novas teses, mais profundas na cadeia, podem ser incorporadas ao portfólio, mas definitivamente alguns papéis que tiveram bom desempenho no semestre não farão parte da carteira, em especial àqueles cuja valorização no período foi mais estimulada pela retomada da indústria pós-COVID (Texas Instruments, NXP, Applied Materials, dentre outros). Estamos atentos a novas bases tecnológicas no setor, como desenvolvimento em fotônica (onde a própria a Intel possui roadmap bastante ativo) e aplicações de chips ao universo de carros autônomos, para os quais players como STMicroeletronics e CREE se destacam.


F=ma


 

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